quinta-feira, abril 14, 2005

dois mil anos de invenções.

"Qual é a mais importante invenção dos últimos dois mil anos?" Essa é a pergunta que uma série de "cientistas da terceira cultura" ligados ao EDGE tentaram responder e deu origem ao livro "As Maiores Invenções dos Últimos 2000 Anos". Há algumas sugestões bastante peculiares como "a borracha de apagar", "a musica clássica ocidental" e outras. Ainda, detalhes interessantes como alguns darem sugestões completamente desligadas a area em que atual. Mas há também, respostas que indicam invenções mais ao alcance de todos, como a televisão, a imprensa e a Internet. E minha resposta para a pergunta passa por essas três ultimas. Para mim, a mais importante invenção dos últimos dois mil anos tem raízes em um espaço de tempo maior do que o proposto pela pergunta e não se trata de um objeto ou máquina, mas sim de um conceito. E a resposta é a "divulgação da informação" que, notadamente, surgiu, talvez por instinto ou não, nas pinturas rupestres. Alguns antropólogos e arqueólogos vêem as pinturas rupestres não como uma maneira de divertimento ou arte e sim como um registro das atividades e métodos para, por exemplo, realizar caçadas e rituais. É bem natural que o homem tenha percebido que era bem mais interessante registrar como se caça, como o fogo surge, ou como os rituais eram feitos do que ensinar tudo de maneira tácita.

E depois, a necessidade de transmitir informação se desenvolveu das paredes para os papiros, destes até chegar ao papel, e da escrita à mão até à imprensa de Gutenberg. E aí, a imprensa deu velocidade antes não imaginada a capacidade de divulgar informação. Ora, prensar livros em série ao invés de escrevê-los é algo infinitamente mais prático por uma série de motivos óbvios. Depois de todas as evoluções feitas à técnica, impressão em jornais, melhores papéis, impressão à cores, surge outro meio de informação: a tv! Claro, antes outros, o rádio e o telegrafo, mas nenhum com poderes próximos ao da televisão. E não conseguiriam, não com a televisão dando capacidade de ver e ouvir ao mesmo tempo, atingindo mais sentidos, o impacto do assistir, de ver, afinal, "o que eu escuto, eu esqueço; o que eu vejo, eu lembro". E eis que a velocidade para fazer a informação circular cresce em curva vertiginosa novamente. Com ela, a TV, foi possível saber, ver, alias, o que se passava em outros cantos do planeta. E criou-se, a meu ver, efetivamente, o que Pierre Levi chama de desterritorialização, você não pensa mais tão fortemente onde os fatos, a informação, ocorreu. Pensa, isso sim, "eu vi na televisão." Não pensa, a priori, de onde a informação está vindo, pensa para onde está indo, para a televisão. Pensa nos canais antes de pensar nos locais.

E, por fim, depois das transmissões a satélite, das manchetes depois do jantar, surge a Internet, filha da ARPANET (neta, ou a versão amadurecida da coisa, sei lá, ora bolas), com informações mais desterritorializadas ainda, eu não penso onde o Google está, fisicamente falando, claro, e sim no endereço que devo acessar, se está nos EUA, no Canadá ou na Conchinchina, não me importa, importa o endereço. Mas, mais do que isso, a Internet mudou também, ou melhor, deu maior velocidade, a geração da informação. Não são mais apenas escritores, repórteres, mulheres do tempo a me dizer o que se passa. Sou eu escrevendo em um blog, tenho minha página na Internet onde gero tanta informação (e lixo) quanto sou capaz. São, pelo menos 50 bilhões de páginas, e o numero aumento, lá vamos nós, vertiginosamente. Talvez como não se tenha visto na imprensa e na televisão. Nem poderia ser!

Afinal, os tempos são outros, mas as razões, a meu ver ainda são as mesmas. Os meios evoluíram com a própria humanidade. Antes, apenas se preocupar com a caça e com o grupo, então para que diacho publicar livros? Depois, tribos, cidades, castas, hierarquias, não dava para dizer "ei, cruza o mar e vem aqui sacar o que escrevi na minha caverna", então, a escrita em papiro, papel, mais simples de transportar do que uma caverna (leitor, essa é a única certeza nesse texto, o resto são especulações de uma mente pouco saudável). Os livros supriram a necessidade dos países, nos continentes, a necessidade de bem mais gente no mundo. Escrever a mão era praticamente impossível já que não é um tipo de produção em série. A TV para um mundo já parcialmente globalizado, mais cidades, mais gente ainda. Era natural que surgisse um meio mais barato e rápido do que livros ou jornais impressos. E, por fim, a Internet, a World Wide Web, com implicações, ainda não decidi, além da transmissão de informação. Escolho a "divulgação da informação" porque acredito ser o alicerce para muitas outras das invenções descritas no livro. Até mesmo para a borracha de apagar!

ps.: Eu já até imagino Diego Salcedo vir aqui e dizer algo do tipo "Mas blá, a informação sempre esteve sobre o controle de alguem, do faraó, sei lá, e nem todos têm acesso." E eu digo, "porra bla, eu sei, quer dizer, lembrava mais não, mas sei. Escreve sobre então, carai!".

valeuz...